Recife, 27 de agosto de 2020
Cartas à Queridagem
Tudo em cima?
Enquanto eu escrevo esta carta falta um mês quase certinho para que tenha início a campanha eleitoral, em 26 de setembro. É quando já vai ser permitido que se divulguem os números de cada candidatura, que se imprima e distribua material de campanha e que se peça votos. Esse período em que nós estamos agora é o que se chama de pré-campanha. Pra os partidos, é tempo de organizar as chapas, tomar as devidas e necessárias decisões pra chegar com tudo pronto na hora do “vamo ver”. Para as pré-candidaturas, a mesma coisa. Convidar a militância pra chegar junto, pensar estratégias de comunicação, começar a passar o chapéu pelo craudefande. Tudo o que for necessário pra finalmente “botar o bloco na rua” quando chegar a hora.
Aqui no PSOL, as coisas estão se afinando. O partido já definiu apoio à candidatura de Marília Arraes (PT) à prefeitura do Recife e agora está nos finalmentes para compor o grupo que vai disputar vagas na Câmara Municipal do Recife. Estamos compondo uma chapa mirando na paridade de gênero e raça e já tem um bocado de pré-candidatura dizendo a que veio. Nesse intuito, nosso partido nacionalmente tomou uma decisão inédita e fantástica, de fazer com que a grana do fundo eleitoral tenha como prioridade apoiar candidaturas negras, feministas e de pessoas com deficiência.
Esse ano temos o desafio de renovar nosso mandato (que, modéstia às favas, é bonito demais). Nas últimas eleições, candidaturas conservadoras e fundamentalistas religiosas foram as mais votadas na nossa cidade – e a gente quer mudar essa história. Pra isso já estamos “com a gota” formando grupos de voluntários, conversando com um monte de gente e nos organizando pra chamar a atenção de tudo quanto é jeito. Você, inclusive, tem lugar no nosso grupo, viu? Clica aqui e chega mais: link para voluntáries
Também é tarefa de todas nós trazer mais gente feito a gente pra ocupar o legislativo local.
Gente feito Dani Portela, que foi nossa candidata a governadora em 2018. Ou como o policial antifascista Áureo Cisneiros e mais um bocado de gente que pela primeira vez vai botar a cara no santinho. Respira fundo e se liga na escalação:
Tem a jovem negra Ana Freire, servidora da Justiça que quer ressignificar a política.
Pedro Stilo, cabra rochedo que acelera os movimentos a partir da comunidade do Bode.
Belloto, comerciante popular, velho conhecido de quem estudou na UFPE e de quem faz a luta pelo direito ao trabalho e moradia.
Sully Santos, mãe solo, negra, que ganha seu pão fazendo faxina e que não abre de uma boa briga pelo que ela acredita.
O companheiro Ecliton José, primeiro pré-candidato surdo que se tem notícia na nossa cidade.
Gente que conhece a cidade pelo lado de dentro. Como a estudante Myrella Vitória, de Jardim São Paulo, o empreendedor Daniel Uchôa, de Setúbal, a agente de saúde Sandra Costa, da Guabiraba, o professor Gutemberg Cavalcanti, filho de Alzira, da Boa Vista, que foi menino pelo Parque 13 de maio.
Iniciativas coletivas? Oxe, temos demais!
As irmãs Laís e Laíse Araújo vão defender o o meio ambiente com a candidatura “ECOletiva”. Débora Aguiar, Elaine da Silva e Larissa Montanhas serão as “Pretas Juntas na Política”. Jean Alves, Itauy Félix, Ivandecio Xavier, Valdir Veríssimo e Claudio Santiago serão os “#TamosJuntos” e vão abraçar a pauta LGBTQI+. Um grupo chamado “Coletiva PSOL” já vem com nada menos que oito pre-co-vereas pra somar.
Em comum, temos a vontade de fazer diferente e a experiência trazida pelo “Recife Arretado”, que ouviu milhares de pessoas da cidade e transformou sentimentos em “50 Diretrizes para um sonho de feliCIDADE”. Olha que eu só tou citando quem já confirmou presença na chapa, viu? Nossa convenção deve acontecer nas primeiras semanas de setembro e pode vir muita novidade ainda.
Pra contribuir com o fortalecimento dessa galera (e de outras tantas), o Agora é com a Gente, junto com o Ocupa Política, tocou uma Escola de Campanhas esses dias. Foram sete encontros com mais de 80 candidaturas do litoral ao sertão e até de alguns outros estados. Todas de partidos de esquerda, quase todas iniciantes.
Muito massa ver a turma entendendo que, nessa crise lascada que a gente tá, é fundamental tomar as rédeas do poder e não deixar mais os outros decidirem por nós.
Nessas formações a gente conversa sobre estratégias, sobre táticas, sobre o que pode e o que não pode na pré e na campanha propriamente dita.
Algumas perguntas, de tão repetidas, têm resposta fácil. “Pode ter show artístico?” Não, infelizmente não pode. “Pode ter bingo?” Não, não pode. “Pode ter leilão, brechó?” Pode e pode. “Outdoor pode?” Não. “Bonés, brindes?” Não. Nenhuma campanha pode distribuir gratuitamente nada que tenha valor de uso. “Eleitores ou eleitoras podem declarar voto?” Podem sim, a qualquer momento. A liberdade de expressão de eleitores e eleitoras é uma coisa sagrada.
Às vezes, porém, chegam umas perguntas curiosas. Uma pessoa pré-candidata que participou de nossas formações, por exemplo, perguntou se poderia jogar tarot como forma de financiar sua campanha. Não há jurisprudência sobre isso, então achamos melhor aconselhá-la que não faça.
Mas nem toda pergunta tem resposta simples Nos últimos dias, uma delas tem se repetido tanto e tanto e tanto.
E incomodado muito pela resposta que não vem: Jair Bolsonaro, porque sua esposa Michele recebeu 89 mil reais de Fabrício Queiroz?