Recife, 13 de agosto de 2020
Cartas à Queridagem
Booora, queridagem,
Tudo bem, gente boa? Espero que quem lê essa cartinha ainda esteja conseguindo resistir bravamente à crise sanitária, à crise política, à crise econômica. Que a família esteja bem, que as contas estejam controladas, que a luta pela felicidade esteja vencendo e que estejas achando alegria nas coisas possíveis.
Sei que tá difícil e que o bode bate forte a cada notícia ruim que insiste em chegar a cada minuto. Mas se é esse o desafio que o Universo colocou na gente, que a gente, junto (mesmo que separado) encontre energia pra superar essa parada – que, com certeza absoluta, um dia vai passar.
Hoje eu queria trocar uma ideia com vocês sobre comunicação. Mais ainda sobre como já é difícil manter um canal de diálogo com a sociedade a partir do mandato municipal e sobre como a gente gasta tempo, energia e juízo pra lidar com o tanto de notícia falsa que vai crescendo a cada dia que se aproxima do período eleitoral.
Quando eu me elegi vereador, não era novidade para ninguém a minha crítica à mídia tradicional. Em especial, ao fato de os veículos de comunicação serem controlados por pouquíssimas pessoas e sobre a dificuldade que a sociedade tem para conhecer outras versões dos fatos, contadas a partir de visões diferentes, de pontos de vistas que muitas vezes estão em conflito com o discurso predominantemente controlado por quem tem dinheiro e poder.
É bem verdade que, nos últimos anos, temos visto surgir no Brasil inteiro (e no Recife não é diferente) uma quantidade cada vez maior de veículos independentes, circulando nas mais diversas plataformas, buscando justamente contemplar a diversidade de vozes em nossa sociedade. Este crescimento, porém, ainda não foi capaz de estabelecer o necessário equilíbrio para que a maior parte da população, ciente das diversas formas de se contemplar os fatos, possa tomar decisões de forma verdadeiramente informada.
Some-se a isso uma verdadeira indústria de construção de narrativas equivocadas a partir da manipulação mal intencionada de informações e a proliferação gremliana de mensagens de ódio na rede mundial de computadores.
A receita pode ser desastrosa.
Eu já disse mais de uma vez e repito agora. A disseminação de notícia falsa nunca foi novidade no mundo.
Essa prática existe desde tempos incertos e a chamada mídia tradicional jamais esteve isenta de praticar. Mas é verdade que agora, em tempos de massificação da produção de mensagens e da oportunidade de disparos em massa mantendo-se o anonimato da fonte, o negócio meio que degringolou.
Assim, cada vez mais, precisaríamos contar com veículos de comunicação profissionais (com pessoas, organizações ou empresas que assumam a responsabilidade por conteúdos produzidos de acordo com o método jornalístico, ao menos) para que pudéssemos, como se diz, separar ‘o joio do trigo’. Mas tá puxado. À medida em que a crise econômica também atinge em cheio as empresas jornalísticas, ondas de demissão em massa e redução gradual do espaço editorial vêm fazendo com que muitos jornais, para dar apenas um exemplo, venham produzindo cada vez menos, sobre cada vez menos assuntos, a partir de cada vez menos pontos de vistas. Se isso é ruim para o jornalismo, para a democracia parece ser ainda pior.
Buscando ter voz no debate público, nosso mandato tem na comunicação um de seus principais pilares. Com seis pessoas atuando na nossa equipe, a gente tem produzido conteúdo que vai além da nossa atividade parlamentar. Buscamos disputar a narrativa da sociedade fazendo com que as pautas que trabalhamos tenham ‘mais voz’ a partir do olhar protagonista de quem é sujeito de sua luta. Assim, a gente produz um sem-número de conteúdos sobre os mais diversos temas: prevenção à violência, negritude, direitos da população LGBT+, territórios tradicionais pesqueiros, liberdade de expressão, democratização do orçamento público, política sobre drogas, direito à educação e à saúde e outros temas que permeiam nosso mandato e nossa militância. São vídeos, cartilhas, cartazes, textos, panfletos virtuais. Tudo no sentido de dialogar e aumentar o alcance de tantos discursos que a gente acredita que precisam chegar a muita gente.
Além disso, cuidamos de prestar contas de tudo o que fazemos no mandato. Pelo twitter, eu publico em tempo real notícias sobre nossas sessões ordinárias. No Facebook e Instagram, damos publicidade a cada ato do mandato. Cada projeto protocolado ou aprovado. Cada fala que faço na tribuna da Câmara, cada voto que eu dou, tudo é publicado. Isso sem falar nas centenas de vezes em que já subi nos ônibus da cidade pra falar de política e as tantas prestações de contas presenciais que a gente faz.
Ao final de cada semestre, no site oficial do mandato, vai para o ar um relatório que, além de conter absolutamente todas as ações do mandato, ainda relata como utilizamos os recursos disponíveis pela Câmara. Nesse período de pandemia, até criamos uma aba especial com o trampo que estamos fazendo sobre o Covid-19, onde também estão as cinco (até agora) notas técnicas que publicamos e divulgamos principalmente sobre gastos públicos e sobre a periferização do vírus na nossa cidade.
Modéstia às favas, nenhum outro mandato na Casa José Mariano está fazendo uma fiscalização tão séria e propositiva como o nosso. Vai nesse link aqui que você fica sabendo de tudo.
Mas a gente sabe que não basta produzir conteúdo legal. Os algorítimos e características que são próprias das redes sociais muitas vezes nos impedem de chegar até mais gente. Sem grana pra patrocinar posts, sem robôs pra impulsionamento (que jamais teremos) e sem discurso raivoso (que não combina comigo de jeito nenhum) não é fácil ir tão longe. Uma carta como estas, recheada de amor, só circula mesmo a partir do carinho, do compromisso político e da solidariedade quem quem de fato lê e resolve compartilhar.
Falar para “a nossa turma” não é ruim, mas o desafio segue sendo conversar com mais e mais gente.
Pra dificultar um pouquinho mais, virou mexeu temos que responder notícia falsa. A “moda” em tempos de quarentena são uns cards que dizem que “A Câmara do Recife votou contra a fiscalização da prefeitura”. Meu nome aparece na lista, como se eu achasse que o poder executivo não precisa ser fiscalizado. Esse mesmo card aparece sempre com designs diferentes, cores diferentes, assinaturas diferentes (normalmente de pessoas pré-candidatas) ou mesmo, na maioria das vezes, sem assinatura nenhuma. Assim mesmo, de forma apócrifa, como fazem os covardes.
A origem da mentira foi a tentativa da criação de uma Comissão Especial para a Fiscalização de Gastos com o Covid, que fracassou. Aí todas as vezes tem que parar pra responder. Primeiro que a Câmara já conta com uma Comissão de Finanças e uma Comissão Especial do Covid. Que ambas podem – e devem – fiscalizar a atuação da prefeitura na crise sanitária. Depois, cada um dos nossos 39 mandatos têm a obrigação de fiscalizar tudo sobre o poder executivo. Depois, que a criação de mais uma comissão tinha um cheiro danado de autopromoção, até porque o vereador que a sugeriu faz parte da Comissão Especial do Covid, de onde tentou ser vice-presidente e não conseguiu. Pela praxe da Casa, um vereador que propõe uma comissão torna-se o seu presidente se o requerimento for aprovado. Não é preciso ser um gênio da política para entender o que estava acontecendo. Não me arrependo do meu voto e até assinei, mais tarde, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, que tem características totalmente diferentes, sobre o mesmo tema.
Esse ano eu tou mais uma vez pre-candidato. Dessa vez à reeleição. Nunca, em tempo algum, a gente cogitou usar ataque contra as pessoas que estão concorrendo ao mesmo cargo que eu como estratégia de promoção. A gente tem mais o que fazer do que ficar inventando história. O ideal seria nem responder a esses absurdos, mas também não dá pra ver uma mentira virando verdade sem fazer nada.
Aí a gente explica. E quando explica, a maior parte das pessoas compreende direitinho. E isso é até bom. Não deixa de ser uma ação educativa do nosso mandato – até porque tem muita coisa nessa história que a gente está aprendendo agora e fez questão de passar adiante. O que mais me chateia mesmo é quando o ódio e o rancor acabam afetando também minha família e meus amigos. Mas não tem muito o que fazer além de explicar tudinho e pedir a gentileza de passar a resposta adiante.
Assim, aos pouquinhos, a gente vai percebendo que, na comunicação, é esse nosso principal ativo. Poder contar, sempre e sempre, com a colaboração da turma que acompanha nosso mandato. Uma galera massa, feito você, que cola com a gente e que, junto com a gente, vem aprendendo e espalhando conhecimento sobre como funciona a estrutura do poder na nossa cidade. Certos e certas de que já tá chegando a hora em que a gente vai virar essa mesa. Durante a pré-campanha, quem quiser seguir junto e chamar mais gente, ampliando nossas potências, pode chegar. A turma do Agora é Com Mais Gente tá cadastrando pessoas interessadas e jajá vai rolar uma conversa bacana. Pra se inscrever, tá aqui o link.
Cheiro grande e até a semana que vem,
Ivan Moraes, vereador do Recife.